Existem inúmeros autores e obras que tratam da terapia familiar. Durante as supervisões já mencionei vários: Carl Whitaker, V. Satir, M. Andolfi, S. Minuchin, J. Haley, P. Papp, etc. Todos estes têm um estilo próprio, conforme já explanei,mas existem alguns pontos básicos. São estes que passo a narrar. Usarei J. Haley como referência (Aprendendo e ensinando terapia. ARTMED, 1998) Vocês já leram alguns textos dele no estágio I
Estágio I
Haley, J.Aprendendo e Ensinando Terapia. Ed. ArtMed.
Cap.5 O que aprender e o que ensinar
Cap.6 A melhor teoria
Cap.7 Questões polêmicas
Na p. 172 há uma seção intitulada “Como iniciar a primeira entrevista”, se possível leiam o capítulo inteiro, melhor ainda será ler toda a obra, mas numa situação emergencial coloco aqui alguns pontos.
1- Toda mensagem na sala de terapia é dirigida ao terapeuta. Se um cliente está muito ansioso isto revela não só seu estado emocional, mas comunica algo (ansiedade) ao terapeuta. Mas não se preocupe com isto agora prezado supervisando. Isto é só p/ o teu inconsciente saber.
2- Não interpretem diretamente o comportamento não-verbal (corporal) dos clientes.
3- Esta situação para a família pode ser nova, muitas famílias não têm o hábito de conversar em conjunto. Então, esta pode e deve ser uma diretiva imposta, com elegância e permissão, pelo terapeuta (vide b)
Simulando:
a) Etapa social – Acolhendo a família. É importante todos estarem bem à vontade.
Como no Rio de Janeirocostuma estar quente é bom ter água fresca por perto.
“Bem, estamos aqui reunidos e antes de iniciar quero saber se todos vieram juntos de casa e como foi para chegarem aqui?” (A idéia aqui é deixar a família mais a vontade)
b) Assumindo o comando – colocando diretivas para a família
“Agora que todos falaram deixem-me explicar como funcionará melhor esta entrevista.
Primeiro quero pedir a permissão de todos para interrompê-los quando eu achar que poderemos ganhar mais tempo e conhecimento sobre a dinâmica da família de vocês. Certo? (É importante obter um Yes set de cada, um- olho no olho, chamando pelo nome).
Outra coisa, eu precisarei (o terapeuta precisará) anotar e/ ou gravar, etc. Certo? (Em caso de gravação há um documento que deve ser assinado pelo responsável, em geral o pai)
E, por último, informo que esta entrevista inicial tem como objetivo ouvir como cada um percebe o problema e também aprender sobre os recursos de cada um que poderão ser usados para ajudar uns aos outros.”
c) Iniciando a entrevista – Exploração geral da dinâmica da família.
“Bom, já que vocês entenderam que se eu interromper esta será uma questão técnica e não uma falta de cortesia de minha parte (olhe novamente p/ todos – Yes set não-verbal) apreciaria que todos dissessem, de uma forma resumida, o que estiver passando pelas suas cabeças, um de cada vez para que possam ouvir uns aos outros”.
(Se houver impasse, passe a palavra aos pais, o pai primeiro e depois a mãe. A hierarquia não é uma questão rígida, mas deve ser respeitada).
Friso aqui um pressuposto básico da terapia estratégica sistêmica: após ouvir o breve relato de cada um e anotar, se quiser (é bom que o faça)… Pense sempre em fazer as pessoas conversarem entre si.Jamais fique conversando com um membro enquanto os outros ficam de fora, procure enredar todos na terapia.
Leve estas instruções junto com você e consulte ou faça um resumo destes passos para olhar e seguir. Aja naturalmente, não fique olhando como se estivesse colando numa prova. Sei que vocês não fazem isto, mas já viram alguém fazer.
Seja franco, caso alguém faça perguntas: “Você tem filhos?”… “Não.”
“Quantos casos você já atendeu?”… “Um, dois, etc.”
“Então você tem pouca experiência?” … “Sim. Justamente por isto é que precisamos treinar… Temos um treinamento, um supervisor, e lemos sobre vários casos e participamos de tantos outros, etc.” Seja breve e direto. (Veja A entrevista inicial de A. Lazarus também.)
Lembre-se, se você estiver à vontade com a sinceridade isto irá contagiar o ambiente.
Após todos falarem, procure os pontos em comum (queixas) e faça com que pensem em soluções, proponha negociações. Numa negociação todos devem sair ganhando algo. Um diálogo não são dois monólogos!
O que o terapeuta pode e deve fazer:
1- Mantenha-se no comando, seja gentil e firme.
2- Caso alguém esteja perturbando a ordem ou com dificuldade de fazer/dizer algo, cabe ao terapeuta decidir se pede para aquela pessoa aguardar um pouco lá fora, em se tratando de cliente com idéias suicidas ou drogadicto, é sempre bom que ele vá acompanhado por alguém da família. Pode haver segredos (abusos), então o membro pode ser ouvido sozinho.
3- Faça resumos/devoluções (Backtrackframe) , lembre-se do VAKOG. Certifique-se de que você entendeu e que os outros membros entenderam as posições e os argumentos.
4- Não aceite violência, mesmo sendo verbal! Proteja a todos, inclusive ao membro da família que está dizendo coisas que talvez se arrependa mais tarde. Ninguém tem o direito de humilhar ninguém!
5- É preciso achar um objetivo comum na família. Numa entrevista inicial de reconhecimento da família este é o objetivo da entrevista. Mas esta irá girar em torno da demanda inicial de um membro da família, caso este tenha vindo para uma terapia individual no SPA. Após ouvir todos os membros e fazê-los conversar entre si sobre seus pontos de vista a respeito do problema apresentado ( o uso de drogas, esquizofrenia, depressão, anorexia, suicídio, bulimia, síndrome do pânico, etc)…
Então o terapeuta irá agradecer a todos e informar que levará estes dados até a supervisão e que em breve entraremos em contato para propor algumas soluções. Caso haja alguma ameaça de suicídio ou de violência será recomendada vigilância (24h) ou mesmo internação, se os membros da família acharem melhor.
De posse deste material, aonde devem estar algumas outras informações (abaixo) iremos elaborar a próxima sessão, se for o caso, ou recomendar terapia de família fora da UERJ, caso haja variáveis de complexidade além da capacidade do momento do estágio.
Como foi o casamento? As reações dos parentes? Apoiaram?
O planejamento dos filhos. Houve aborto? ( Tudo isto deverá ser colocado com muita delicadeza, se for necessário, usem técnicas de citação – “Sabem, o supervisor contou um caso em que…” ou “Lá em casa minha mãe me contou, somente quando eu tinha tal idade, que ela teve que fazer um aborto”.
Obs. Esta greve impediu que as supervisões ocorressem conforme eu havia previsto, portanto este texto, produzido na madrugada, sob protestos de minha família, diga-se, não substitui a leitura dos textos dos estágios e além.
Apreciaria que todos estejam em dia com as leituras dos seus respectivos estágios para evitar serem atropelados pela demanda dos casos clínicos.
A insanidade é a incapacidade de comunicar nossas ideias
Esta frase foi extraída do filme “Veronika decide morrer”, inspirado na obra homônima de Paulo Coelho, 1hora e doze segundos de filme, dita pelo personagem que seria um mestre sufi.
Então todos nós, em maior ou menor grau, somos insanos… Mas não confundam insanidade com perda de controle… Tem duas opções… Controlar a mente ou deixar a mente controlar vocês.
Abaixo, segue…
A incrível entrevista com o professor Pensey Nathua Mann, nascido na Alta Eslobóvia (em 35/13/2018), que como todos deveriam saber fica abaixo da Média Eslobóvia.
Mirna Valódi (Мирна Валоди) & Prof. Pensey Nathua Mann Old
Sanando dúvidas, o parâmetro é a temperatura e não a altitude, sendo assim a Baixa Eslobóvia fica no topo, onde agora reside também meu honorável amigo, o Barão Louis Sergius.
Outro detalhe curioso é que existem três dias na semana apenas, porém os meses têm 37 dias, segundo o calendário esloboviano.
Responsável pela entrevista: Mirna Valódi (Мирна Валоди)
Мирна: O que é ser humano agora?
Neanderthals
Pensey Nathua Mann: Desde sempre o ser humano é uma espécie que surpreende com suas incríveis invenções; na continuidade da história podemos observar um ser que inventou a mentira e passou não só a acreditar nela, mas também a depender dela. Como diria Bernard Shaw, há loucos até mesmo dentro dos manicômios.
Мирна: O que significa esta capacidade de mentir? O senhor poderia explanar a vossa declaração inicial?
Pensey Nathua Mann: Mentir basicamente é a capacidade de abstrair algo da realidade e simular esta realidade. Uma armadilha pode simular que há um terreno seguro ali e quando o animal pisa ele afunda e é preso ficando à mercê de caçadores. Assim as simulações foram sendo refinadas e cada vez mais copiavam a realidade ou acrescentavam elementos a esta realidade. Desde animais mitológicos, formados por pedaços da imaginação, como o Minotauro da Ilha de Creta, ou Pégaso, o cavalo voador.
Woman cat corvo
Мирна: Neste caso, o mundo imaginário da mitologia antiga abrange para o senhor todas as crenças e religiões? Até os dias de hoje?
Pensey Nathua Mann: да, конечно,, digo, sim, claro. Desde as religiões germânicas pré-cristãs, até as formas mitológicas monoteístas de hoje, mas, o problema central aqui não é a religião, embora estas simulações mitológicas tenham trazido certo conforto em relação as barganhas de controle e entendimento do mundo, como no caso da vida e da morte, há algo realmente admirável que foi apontado claramente pelo professor Yuval Noah Harari como mais estrambólico do que a criação de deuses… A nossa crença no dinheiro.
Мирна: Kriloloco isvinitia, digo, muito interessante. Podes prosseguir.
Yuval Harari
Pensey Nathua Mann: Basicamente o argumento do prof. Yuval repousa numa constatação estatística, na época em que comunicou este fato havia 60 trilhões de dólares no mundo todo. Ou seja, convertendo todas as moedas, de todos os países, em dólares havia, repito, 60 trilhões de dólares.
Мирна: Kriloloco isvinitia. Podes prosseguir, isto é muito dinheiro.
Pensey Nathua Mann: Sim, mas tal cifra não se trata de dinheiro palpável, digo, impresso em papel moeda, ou mesmo em moedas.
Мирна: Como é isto?
Pensey Nathua Mann: Mentiras, simulações eletrônicas, cifras eletrônicas, ou seja, apenas uns dez trilhões são impressos, palpáveis, logo, 50 trilhões são cifras eletrônicas.
Мирна: Uau, uau… Então, há uma simulação da própria simulação da própria mentira inventada?
Concorrência
Pensey Nathua Mann: É isto. Umas poucas pessoas no mundo têm acesso a este sistema e o usam como bem querem, ou conforme o seu humor pela manhã, como aponta Yuval.
Conversei com um trabalhador de uma casa de “fazer dinheiro impresso”. Pessoa humilde e honesta… Todo dia acordava e se dirigia ao seu trabalho, no final do mês recebia o seu magro salário.
Perguntei como era estar trabalhando naquela Casa onde se fazia dinheiro, qual era a sensação de estar necessitando ou mesmo desejando comprar várias coisas e ver tanto dinheiro empilhado ali pelos corredores, o que ele e os outros pensavam?
A resposta foi incrível: Eu e os colegas com quem conversei sobre isto pensamos que aquelas pilhas de notas eram apenas papel empilhado.
Loucura
Ao que retruquei imediatamente, mas na verdade é isto que aquilo é, um monte de papel empilhado, porém devido as crenças inventadas pelo ser humano depositamos toda a nossa confiança de que aquilo tem um valor.
A questão é interessante porque se não houver uma confiança recíproca no valor daquele tipo de papel seria como jogar um jogo sem regras, ou alterando as regras a seu bel prazer. Digamos, há um jogo em que você troca figurinhas por outras conforme os dados rolam. Sendo que as figurinhas têm valor diferenciado. Algumas figurinhas valem mais de tal maneira que você pode trocar uma por vinte. Porém, em um dia específico, um dos jogadores falsifica a tal figurinha, logo dirão, ele foi desonesto.
Porém, em outro dia, um dos jogadores é filho do dono da fábrica que imprime as figurinhas, então ele vai jogar e leva várias figurinhas de valor maior, todas autênticas. Assinadas pelo seu pai “In God we trust”… Bem, neste caso poderia ser percebido que há um derrame de figurinhas, mas, se o jogo for jogado por 7 bilhões de pessoas? Em 2013, este era aproximadamente a população mundial, conforme dados divulgados pelo Fundo de População das Nações Unidas (FNUAP).
Senhor da Insanidade
Agora, peguemos aquela cifra, 60 trilhões, dividido por sete bilhões, daria algo em torno de 8mil e 500 dólares per capta.
Outra linha de raciocínio, digamos que uma das figurinhas de menor valor recebe um beijo e fica marcada pelo batom de uma jovem fêmea que desperta as mãos e a testosterona de vários jogadores, agora esta é também uma figurinha diferenciada, foi batizada pela jovem. Veja, se você tem uma camisa de um esporte assinada pelo ídolo ela tem um valor, desde que haja consenso, ou seja, se todos acreditam que aquela assinatura é real, que aquilo sujeito é mesmo tão bom quanto a garota do batom.
Мирна: Isto vai longe professor, posso ver algumas das consequências deste raciocínio.
Pensey Nathua Mann: Sim, por isto Bernard Shaw, em seu aforisma, aponta para esta linha entre a sanidade e a insanidade, independente de credo ou ideologia todos acreditam na existência do dinheiro, mesmo quando ele não existe.
Assim, se alguém colocar alguns códigos eletrônicos em sua conta de uma “forma escondida”, será como você receber créditos em seu cartão de transporte. Você passará a ter mais créditos em seu cartão. Este é um mundo de ilusões, simulações e mentiras, e, se não acreditarmos nele haverá um colapso do sistema geral e teremos que voltar ao escambo, às trocas de mercadoria.
O Diamante de Erickson
Em busca de critérios para uma terapia sob medida Prof. Celso Lugão da Veiga
Este artigo tem como objetivo principal expor os critérios diagnósticos sistematizados por Jeffrey K. Zeig através de sua *compreensão da obra de Milton Erickson, bem como citar as fases do processo terapêutico denominado metaforicamente de “O Diamante de Erickson”.
Deve-se observar que um resumo de outras sistematizações pode ser acessado em W. H. O’Hanlon ( 1994).
W. H. O’Hanlon (foto)
Este artigo originalmente foi concebido para apoiar as aulas em cursos de hipnoterapia, e agora pode ser um guia para pessoas e profissionais interessados em conhecer esta abordagem, como por exemplo, os estagiários do Projeto de Psicoterapia Estratégica do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da UERJ.
“As pessoas possuem uma reserva de sabedoria, aprendida e esquecida, porém sempre disponível”. Milton H. Erickson.
(foto de Erickson)
Propositalmente, os tópicos e temas levantados neste artigo têm uma caráter motivacional, ou seja, não se pretende aqui desenvolve-los e explicitá-los, uma vez que isto já está feito nos livros citados, bem como é uma tarefa realizada durante as supervisões e aulas do prof. Celso Lugão.
O material deste artigo, de forma mais extensa, pode ser encontrado na obra “Terapia cortada a la medida” organizada pela Dra. Teresa Robles a partir do seminário proferido por J. Zeig na cidade do México; sendo que em 1993 o Dr. J. Zeig esteve no Brasil ministrando um workshop análogo, tendo o autor deste artigo frequentado o mesmo.
A obra da Dra. T. Robles então foi traduzida com o título Terapia feita sob medida. (vide bibliografia).
Existem ainda dois temas que introduzem o contexto que embasa tal exposição:
–> o primeiro trata de uma breve reflexão sobre os caminhos da ciência e…
–> o segundo açambarca o problema da formação e da informação em psicoterapia.
Os temas para reflexão buscam estimular o pensamento científico (crítico, portanto) alertando para distorções perigosas que não permitem o amadurecimento de soluções para as questões humanas, da vida e do universo como um todo.
As fontes citadas permitem expandir e consultar muitas outras referências que estão na base de tais ideias.
Os temas são descritos abaixo: Processos algorítmicos (a base da vida) e Simuladores. ( Dennett) Os neurônios-espelho – a base da leitura das intenções do outro. (Fleury) Regularidade – ciência, psicoterapia, modelos e estratégias.
Tais temas para reflexão, conforme foi dito, não serão desenvolvidos neste artigo, porém existem referências bibliográficas no índice, assim como outros artigos neste mesmo site que abordam algumas informações pertinentes.
A relevância da formação e da informação, o segundo tema, explica como se forma o estilo de cada terapeuta.
Carl Whitaker e Jay Haley são citados devido as suas conhecidas posições no tocante a aprendizagem deste binômio: formação x informação.
Enquanto Carl Whitaker valoriza a formação, Jay Haley provoca com seus argumentos sobre a supremacia da informação e do treinamento. A obra citada de Salvador Minuchin contém uma sábia análise deste problema. (Vide bibliografia).
Jay Haley (foto)
Daí a anedota transcrita abaixo, que resume a posição de Salvador Minuchin.
(foto Salvador Minuchin)
Certa vez, um velho e sábio rabino escutava com paciência dois de seus alunos mais brilhantes que se encontravam engajados em uma discussão polêmica.
O primeiro apresentou seu argumento com convicção apaixonada.
O rabino sorriu em aprovação. “Isso está certo.”
O outro aluno argumentou o contrário, convincente e claramente.
O rabino sorriu novamente. “Isso está certo.”
Aturdidos, os alunos protestaram.
“Rabino, nós dois não podemos estar certos!”
Carl Whitaker
“Isso está certo”, disse o velho e sábio homem” ( in Minuchin, 2008, p. 11)
Portanto:
Um terapeuta pode estar envolvido com o conteúdo, e então não observa as relações entre as pessoas.
Outro pode perceber o comportamento dos clientes à luz de uma ideologia ou tema. (exemplo: justiça social e misticismo)
O estilo pode estar relacionado com respostas caracteriológicas básicas do terapeuta: evitação de conflitos, um foco exclusivo sobre as emoções ou sobre a lógica.
Ser direto ou indireto na comunicação.
Um se concentra em pequenos detalhes p/ manter a distância, evitando confrontos.
Outro faz preleções, não assumindo as próprias idéias diante do cliente.
“O curioso paradoxo é que, quando aceito a mim mesmo exatamente como eu sou, então eu sou capaz de mudar.” C. Rogers (in Shapiro, 2001,p.101)
Assim, dois terapeutas com uma compreensão teórica semelhante (informação) de um caso clínico e com o mesmo objetivo terapêutico, responderão de duas maneiras diferentes (formação) e idiossincráticas.
Logo, o estilo do terapeuta deve ser percebido e ampliado: o desafio é expandir o repertório.
“O objetivo é um clínico que consiga manejar a si mesmo em nome da mudança terapêutica e, além disso, ser espontâneo.”
S. Minuchin (in Minuchin et alli, 2008, p. 13).
Portanto, toda obra, seja de arte ou/e científica, é um tanto autobiográfica, como no cinema, por exemplo.
Os modelos teóricos e as abordagens em psicologia e em psicoterapia seguem este viés e refletem a personalidade ou sofrem influência do histórico de vida de cada criador.
Neste sentido, as obras de T. Robles, que refletem sua vida, são excepcionais para o propósito do terapeuta examinar a si mesmo, investigar a sua própria vida). Recomenda-se todas.
Coloca-se também um link de uma entrevista concedida pela Dra. Teresa Robles.
Ela recebeu uma homenagem da Fundação Milton Erickson, em “reconhecimento por toda uma vida dedicada a atingir contribuições de destaque no campo da psicoterapia”.
Portanto, antes de prosseguir, se anexa um resumo biográfico sobre M. Erickson
O propósito deste resumo é lembrar, assim como ilustrado na exposição oral que o professor Celso Lugão costuma fazer sobre o filme Tommy (ópera rock do conjunto The Who), que o estilo de cada um é moldado por quesitos extremamente idiossincrásicos.
Recomenda-se fortemente aos interessados assistirem a este filme, dirigido por Ken Russel.
Certamente, deve haver legendas em português no Youtube, mas o que está no link abaixo encontra-se em espanhol:
Desta forma, também a abordagem de Milton H. Erickson está relacionada com a história de sua vida.
A vida de Milton Hyland Erickson (Aurum, Nevada, 5 de Dezembro de 1901 — Phoenix, Arizona, 25 de Março de 1980).
Milton Hyland Erickson nasceu no estado de Nevada – EUA, em 1901 e faleceu em 1980 em Phoenix – Arizona.
Vinha de uma família de fazendeiros e foi criado em ambiente rural até a sua adolescência.
O primeiro fato marcante da vida de Erickson que o acompanhou durante vários anos, foi a questão referente as suas inúmeras dificuldades físicas e de saúde.
Erickson contraiu poliomielite aos 17 anos, ficando totalmente incapacitado de fazer qualquer coisa a não ser falar e mover os olhos durante alguns anos.
As dificuldades e dores físicas estiveram presentes durante sua vida, intercalando episódios de melhora e crises recorrentes de pólio, fazendo com que aos poucos houvesse uma degeneração progressiva de seus músculos e múltiplas deficiências.
A história de Erickson e a sua visão inovadora da psicoterapia são em última análise, a história da superação de suas inúmeras dores e problemas de saúde.
Erickson se interessou inicialmente pelo uso da hipnose no controle e manejo de dor crônica, vindo a desenvolver durante toda sua vida inúmeras técnicas para seu tratamento.
Como ele mesmo coloca: a pólio foi o melhor professor que já tivera quanto ao comportamento humano e seu potencial.
Ensinou a ele a força da motivação, mínimas mudanças comportamentais e um extremo senso de percepção e observação, valorizando o humor e as relações familiares.
Deste ponto em diante seguem os tópicos que resumem o conteúdo que são expostos nas supervisões e aulas, lembrando ainda que podem ser realizados alguns exercícios para que se possa vivenciar algumas das informações; todo este material encontra-se bem explicado no seminário de Jeffrey Zeig organizado pela Dra. T. Robles.
O diamante de Erickson sugere que o terapeuta deve ter em mente os seguintes passos:
Ter uma meta (objetivo)- o chamado estado desejado da terapia, isto permitirá saber p/ onde conduzir a terapia, bem como fixa um ponto que permite ao terapeuta saber se alcançou o objetivo.
Este objetivo deve ser… Embrulhado para presente, ou seja, usam-se as técnicas (metáforas, hipnose, prescrições) p/ passar as sugestões.
Se o objetivo é levantar a auto-estima, por exemplo, podem ser contadas histórias/metáforas, ou usar estados de transe, ou alterar submodalidades (NLP).
Fazer sob medida – significa que além da meta ser passada através de técnicas, isto deve ser feito usando o conhecimento das características marcantes do cliente.
Assim, se uma pessoa é visual o terapeuta deve usar palavras visuais… Veja como é belo este mar.
Se é cinestésico… Sinta como este mar é aconchegante com suas águas na temperatura ideal para você.
Se o cliente é auditivo… Ouça o agradável som das ondas deste mar.
Pelos exemplos, todos podem notar que quem os fez aprecia o mar; então fazer sob medida é usar os valores de cada um.
Logo falar sobre o mar, sentir o mar e ver o mar denota que o mar é valorizado pela pessoa que criou tais exemplos.
Estabelecer um processo – é preciso motivação para levar adiante as mudanças, assim deve-se observar a responsividade, estabelecer metas intermediárias p/ reforçar os ganhos, aplicar conotações positivas para cada etapa alcançada/vencida, passo a passo.
Deve-se criar uma certa cerimônia (ritual/drama) ao se oferecer a meta embrulhada para presente e sob medida, isto é fundamental.
Obs. Vários analistas da obra de Milton Erickson (incluindo J. Zeig) destacam a utilização como um método ou conceito, extremamente poderoso, o qual gera técnicas e até uma postura de vigilância, pois mantém o terapeuta atento, observando aquilo que o cliente traz.
É por demais conhecido o caso do sujeito que dizia ser Jesus Cristo e que foi tratado por Erickson a partir da aceitação deste ponto, acrescentando, e portanto expandindo, o fato de que como Jesus era carpinteiro, tal dote poderia ser utilizado em prol da socialização, reintegração do cliente e aumento da sua auto-estima e do respeito da comunidade. (Sobre este caso ver Haley, 1991)
– a relação dos filhos (+ velho, + novo, caçula, único, temporão).
Rural ou Urbano?
Intrapunitivo ou Extrapunitivo?
Doador ou Absorvedor?
Pesquisador ou Auto-protetor?
Controlador ou Controlado?
Conforme dito, a fonte básica de partida aqui é a obra organizada pela Dra. T. Robles ( 2000), e lembrem-se…
“Mente humana é como paraquedas… funciona melhor aberta” Charlie Chan Liang Luganus.
Bibliografia
BUZAN, T. Mapas mentais e sua elaboração. Cultrix. 2005.
DENNETT, D. A perigosa idéia de Darwin. Rocco. 1998.
ERICKSON, M. Os seminários didáticos de (psicanálise) com Milton Erickson. Imago. 1983. Obs. O título original não tem a palavra psicanálise, a mesma parece ter sido uma jogada (péssima) de marketing da editora que vendia livros de psicanálise. Há uma tradução de outra editora que preservou o verdadeiro título… Seminários Didáticos de Milton Erickson”, Editorial PSY/Campinas, 1995).
FLEURY, H. et alli. Psicodrama e neurociência. Ágora, 2008.
HALEY, J. Terapia não-convencional. Summus, 1991.
MADANES, C. Sexo, amor e violência.Editorial Psy. 1997.
MINUCHIN, S. et alli. Dominando a terapia familiar. ArtMed, 2008.
O’HANLON, W. H. Raízes profundas. Editorial Psy II. 1994.
OMER, H. Intervenções críticas em psicoterapia. Artes Médicas, 1997.
ROBLES, T. Terapia feita sob medida – um seminário ericksoniano com Jeffrey K. Zeig. Diamante, 2000. ( traduzida de ROBLES, T. (1991) Terapia cortada a la medida: un seminario ericksoniano com Jefrey K. Zeig. México: Instituto Milton H. Erickson de la ciudad de Mexico Editorial.)
ROBLES, T. Auto-hipnose. Diamante, 2001.
ROBLES, T. A magia dos nossos disfarces. 2001.
ROBLES, T. Revisando o passado para construir o futuro. Diamante, 2002.
SHAPIRO, F. EMDR. Nova Temática. 2001.
SHORT, D. Estrategias psicoterapéuticas de Milton Erickson. Alom editores, 2006.
ZEIG, J. Hipnose ericksoniana- o lado humano e o trabalho de M. Erickson. Editorial Psy. 1993
Última paciente viva de Freud diz que ele a “salvou” com apenas uma consulta.
Freud fazendo prescrições terapêuticas, bem no estilo que mais tarde veremos em Milton Erickson e outros geniais terapeutas.
Cristina Gawlas Viena, 10 out (EFE).- Apenas uma consulta de 45 minutos com o “pai da psicanálise” em 1936 bastou para “salvar” a última paciente conhecida ainda viva de Sigmund Freud, a vienense Margarethe Lutz, de 89 anos.
Segundo revelou à Agência EFE, ela sente “uma grande gratidão” por Freud; embora ele não tenha submetido a paciente a um tratamento de psicanálise propriamente dito: mantiveram apenas uma conversa.
Essa única consulta com Freud deixou uma lembrança inesquecível na então jovem de 18 anos, que morava com o pai e a madrasta, já que a mãe dela tinha morrido no parto.
“Freud me fez compreender que a família e uma educação rigorosa não são as únicas (coisas) que decidem, e que há outras possibilidades”, afirmou a idosa.
Margarethe disse que o psiquiatra foi muito compreensivo com ela, na época uma jovem sem experiência que se sentia sozinha e que seguiu os conselhos do famoso doutor.
A octogenária afirma que buscava na ópera uma forma de fugir da realidade. Ela fingia interpretar grandes peças, como “Tristão e Isolda”, para superar o isolamento imposto pelo pai.
Um dia, os operários que trabalhavam para o pai, dono de uma fábrica, a viram vestida como uma cantora da ópera de Richard Wagner e cantando. Eles ficaram escandalizados, contaram o fato para o pai da jovem e a chamaram de “louca”.
O pai de Margarethe resolveu consultar o médico da família. O doutor disse que a jovem não sofria de nenhuma doença física, mas sim da “alma”.
O doutor marcou uma consulta com um “médico de muito boa fama, mas muito caro”, Freud, que já era famoso na época, mas de quem pai e filha nunca tinham ouvido falar. Margarethe não compreendeu então a importância histórica do encontro.
A paciente de Freud conta que o pai estava sempre ocupado e era muito rígido. Além disso, proibia o contato com jovens da mesma idade e a mantinha isolada, para evitar que conhecesse algum rapaz.
“Ninguém falava comigo”, afirma Margarethe.
Na época da entrevista, aos 89 anos e viúva há 17, ela continua fazendo esculturas e pintando.
O último trabalho dela é um retrato em relevo da ganhadora do prêmio Nobel da Paz Bertha Von Suttner, que ficará pendurado nas paredes da casa em Viena onde passou a maior parte da vida.
Além disso, ela costuma visitar as duas filhas do casamento de 35 anos. Uma vive na Califórnia (Estados Unidos) e a outra em Israel.
Da consulta com Freud há 71 anos, ela se lembra do famoso divã coberto com um tapete persa no consultório – apesar de não ter chegado a se deitar nele – e de prateleiras cheias de livros e objetos de escavações arqueológicas, que o psicanalista colecionava.
Freud começou a fazer perguntas da vida da jovem e o pai de Margarethe resolveu respondê-las pela filha.
O “pai da psicanálise” pediu que ele o deixasse a sós com a filha, algo que o industrial aceitou, embora contrariado.
Uma vez a sós com Freud, Margarethe disse que tirava notas baixas no colégio, gostava de interpretar peças dramáticas e que o pai a levava ao cinema, mas a obrigava a sair da sala quando eram exibidas cenas amorosas.
Margarethe disse que achou Freud simplesmente “um homem velho” e não voltou ao consultório na rua de Berggasse (Viena) até o ano passado, apesar do local já não ser mais o mesmo.
O semanário “Profil” – que descobriu a única paciente viva – lembrou que o “pai da psicanálise” estava com câncer na boca desde 1923, o que obrigou a se submeter a várias operações dolorosas.
Na época já tinha publicado suas principais obras, como “Três ensaios para uma teoria sexual”, “A interpretação dos sonhos” e “Totem e tabu”, entre outras.
Freud recomendou que da próxima vez que fosse ao cinema continuasse sentada quando um casal se beijasse na tela. Além disso, aconselhou Margareth a fazer esportes, ir a bailes e a ter contato com jovens da idade dela.
Como o industrial respeitava as opiniões de médicos, em particular a de Freud, aceitou os conselhos para a filha, que foram corretos. Margarethe chegou a se emancipar, conheceu o futuro marido e se casou aos 20 anos, em 1938.
Além disso, ela nunca precisou de psicanálise nem de psicoterapia. Margarethe também não leu os livros de Freud, um gênio que, perante a pressão dos nazistas e por ser judeu, foi obrigado a se exilar logo em seguida na Inglaterra, onde morreria dois anos depois.
Bem, aí está, Freud como sempre o vi, um grande terapeuta, flexível e longe dos mitos que alguns apregoam sobre a prática clínica da psicanálise.
Para outros detalhes e evidências, consulte-se:
Como Freud trabalhava – Relatos inéditos de pacientes
Nesta obra de Paul Roazen, seguem mais evidências sobre a diferença entre o que se diz que se faz, e o que se faz realmente dentro do consultório.
Há também do mesmo autor ” Freud e seus discípulos” (Editora: Cultrix,1978), que tem um excelente capítulo “Freud como terapeuta”.
Uma coisa é o Papa João Paulo II em frente ao Vaticano, falando como chefe supremo da Instituição, outra coisa é a pessoa Karol Józef Wojtyla. Embora dos papas pareça ser uma pessoa com bem menos incongruência (C. R. Rogers) entre o papel social (personagem) e a sua real condição humana.
Como Freud trabalhava – Relatos inéditos de pacientes (Esta obra foi lançada no Brasil em 20/07/1999, pela CIA das Letras) integra a série de livros escritos por Paul Roazen sobre a história de Sigmund Freud. Desta vez, o cientista político canadense organiza as entrevistas que fez nos anos 60 com 25 pessoas (todas já falecidas) que buscaram no disputado divã do criador da psicanálise um alívio para o sofrimento. Para este livro foram selecionadas dez entrevistas, tanto de gente que se tornou famosa por suas ligações com o movimento psicanalítico, como de personagens comuns, como Albert Hirst, um advogado austríaco emigrado para os Estados Unidos que atribuiu ao tratamento, mais de cinqüenta anos depois de seu término, o fato de ter alcançado sucesso profissional.
Das lembranças dessas pessoas surge o retrato de Freud como um psicanalista que se ocupa muito de seus pacientes, adota estratégias terapêuticas pouco ortodoxas, conversa sobre assuntos de todo dia durante as sessões e deixa entrever muito de suas simpatias e antipatias pessoais. Roazen, um crítico freqüentemente ácido, destaca as contradições trazidas à tona pelos entrevistados e revela como Freud poderia ser julgado um perigoso heterodoxo que nem sempre alcançou o sucesso desejado no tratamento daqueles que o procuraram.
Roazen studied at Harvard University and in Chicago and Oxford. Later he returned to Harvard. The subject of his dissertation was Freud’s political thinking. In 1971 he changed to York University in Toronto, where he taught until his early retirement in 1995.
In 1965 Roazen began to interview surviving friends, relatives, colleagues and patients of Sigmund Freud. His first ‘big’ book “Freud and his followers“ was based on hundreds of hours of material. This was an original approach at the time.Kurt Eissler interviewed pioneers of psychoanalysis but, with the exception of an interview with Wilhelm Reich, they were not published.
Médico francês relata suas pesquisas sobre o câncer e ensina a prevenir a doença usando defesas naturais
MAIS DE 300 MIL EXEMPLARES VENDIDOS NA FRANÇA.
PUBLICADO EM 26 PAÍSES.
“Todos temos um câncer dormindo em nós.” Esta frase, estarrecedora para muitos, é o ponto de partida do livro Anticâncer, do médico e pesquisador francês David Servan-Schreiber. E, de maneira nenhuma, deve ser motivo de alarme; pelo contrário, é exatamente esta certeza que nos torna capazes de vencer essa doença – a maior causa de mortalidade no mundo ocidental.
É Servan-Schreiber quem explica: “como todo organismo vivo, nosso corpo fabrica células defeituosas permanentemente. É assim que nascem os tumores. Mas nosso corpo é também equipado com múltiplos mecanismos que lhe permitem detectá-los e contê-los. No Ocidente, uma pessoa em cada quatro vai morrer de câncer, mas três em cada quatro não morrerão. Para estas últimas, os mecanismos de defesa terão dominado o câncer”.
O autor não fala somente como pesquisador. Em 1981, quando tinha apenas 30 anos, Servan-Schreiber teve câncer no cérebro. Foi tratado pelos métodos convencionais, e depois teve uma recaída. Foi então que decidiu pesquisar, para além dos métodos habituais, tudo que podia ajudar seu corpo a se defender. Na qualidade de médico, pesquisador e diretor do Centro de Medicina integrado à Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, teve acesso a informações preciosas sobre as abordagens naturais que podem contribuir para prevenir ou tratar o câncer. Hoje, ele vive em plena saúde há mais de sete anos.
Em Anticâncer, Servan-Schreiber faz o relato de tudo o que aprendeu. Conta que, depois da dura experiência de combater a doença com uma cirurgia e várias sessões de quimioterapia, pediu ao seu oncologista conselhos sobre a vida que deveria levar para evitar uma recaída. “Não há nada de especial a fazer. Viva normalmente, e se o tumor reaparecer, o detectaremos bem cedo”, lhe teria respondido o especialista.
Inconformado, o autor decidiu compreender aquela doença que o afligia. Precisou de meses de pesquisa para começar a entender como poderia ajudar seu corpo a se armar contra o câncer. Participou de conferências nos Estados Unidos e na Europa, percorreu bases de dados médicos e dissecou publicações científicas. “Rapidamente percebi que as informações eram parciais e dispersas, e que não adquiriam a totalidade de seu sentido senão quando reunidas”, explica ele, no prefácio de seu livro.
O que a pesquisa de Servan-Schreiber tem de inovadora é dar aos nossos próprios mecanismos de defesa o papel central na luta contra a doença. “Eis o que aprendi: se todos temos células cancerosas dentro de nós, temos também um corpo preparado para frustrar o processo de formação de tumores. Compete a cada um de nós utilizá-lo”, afirma o médico.
Sua pesquisa revela que na Ásia, os cânceres que afligem o Ocidente – como o câncer de mama, do cólon ou da próstata – são de sete a setenta vezes menos freqüentes. Entre os homens asiáticos que morrem de outras causas que não seja a doença, contudo, encontram-se tantos microtumores pré-cancerosos na próstata quanto entre os ocidentais. Alguma coisa na maneira de viver deles impede que os tumores se desenvolvam.
Em compensação, ele explica, entre os japoneses instalados no Ocidente, a taxa de câncer alcançou a nossa em uma ou duas gerações. Alguma coisa na nossa maneira de viver impede que o nosso corpo seja capaz de combater eficazmente essa doença.
Dos anos 40 para cá, o ambiente está cada vez mais carregado de produtos químicos sintéticos notoriamente cancerígenos – amianto, benzina, pesticidas, entre outros. Além disso, a alimentação também mudou: consumimos mais açúcar (de cinco quilos anuais por pessoa em 1830 para 70 quilos em 2000) e mais gordura hidrogenada, muitas vezes sem nem perceber. O ômega 6, uma das piores gorduras que há, está presente nas rações servidas ao gado leiteiro e de corte e às aves de granja em quase todos os países do mundo. Pesquisas revelaram que em 2000, os ovos continham vinte vezes mais ômega 6 que em 1970.
Sem jamais duvidar do poder da medicina tradicional – que lhe salvou a vida – e depois de ter testado em si mesmo tratamentos experimentais recém-saídos das pesquisas de ponta, Servan-Schreiber explica que nós podemos estimular nossas defesas naturais contra esse mal, que “é mais uma questão de estilo de vida que de genes”.
O AUTOR
David Servan-Schreiber, 47 anos, é médico psiquiatra e professor da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, e da Universidade de Lyon, na França. Sua tese de doutorado, orientada pelo vencedor do Prêmio Nobel Herbert Simon, foi publicada na prestigiada revista Science. O premiado neuropsiquiatra, um dos fundadores do Centro de Medicina Complementar em Pittsburgh, defende o valor da medicina ocidental tradicional aliado a práticas integradas de mente e corpo.
Também é autor do best-seller Curar (“Guérir”, em francês). Anticâncer vendeu mais de 300 mil cópias na França.
SELO FONTANAR
“Quando meu pai (Jean-Jacques Servan-Schreiber, acima) foi diagnosticado com Alzheimer, ele se tornou, por incrível que pareça, uma pessoa mais suave e tranqüila”
O psiquiatra francês David Servan-Schreiber, professor da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, ficou conhecido mundialmente em 2004, ao lançar o best-seller Curar. Aos 47 anos, ele decidiu falar publicamente do câncer no cérebro que teve aos 31. Foi durante uma experiência neurológica, em que se ofereceu como cobaia, que David descobriu, por acaso, que era portador de um tumor do tamanho de uma noz. Submetido a uma cirurgia e a sessões de quimioterapia, o médico venceu a doença, mas não abandonou os maus hábitos ? continuou a comer mal, a não se exercitar e a se deixar levar pelo stress. Com a recidiva do câncer, ele mudou radicalmente a forma de encarar e combater a doença. Essa virada é o tema de seu livro Anticâncer ? Prevenir e Vencer Usando Nossas Defesas Naturais (Editora Fontanar). David é o primeiro dos quatro filhos de Jean-Jacques Servan-Schreiber, jornalista, ensaísta e político francês. Fundador da revista L?Express, em 1953, que tinha entre seus colaboradores os escritores Albert Camus e Jean-Paul Sartre, Servan-Schreiber, morto em 2006 de complicações advindas da doença de Alzheimer, era um homem brilhante, bonito e charmoso ? tanto que era chamado de “Kennedy francês”. No livro, David conta que uma de suas maiores aflições foi dar a notícia da própria doença ao pai: “Escutando a voz dele, meu coração se apertou. Tinha o sentimento de que ia apunhalá-lo… Ele nunca se negara a entrar em nenhum combate, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Mas, nesse caso, não haveria combate. Nenhuma ação militar. Nenhum artigo incisivo a escrever”. De Paris, ele deu a seguinte entrevista à repórter Anna Paula Buchalla:
A DESCOBERTA DO CÂNCER ? Diagnosticado com a doença pela primeira vez há dezesseis anos, fui tratado pelos métodos convencionais. Nove anos depois, no entanto, tive uma recaída. Decidi, então, pesquisar tudo o que era possível fazer naturalmente, sem recorrer a remédios, para ajudar meu corpo a se defender do câncer. Municiei-me de todo tipo de informação sobre a doença. Hoje, acho que todos os pacientes deveriam fazer o mesmo. Esse é, sem dúvida, o melhor caminho para que médicos e pacientes se tornem parceiros na condução de um tratamento. Infelizmente, ainda não me sinto curado. Em geral, meu tipo de câncer não desaparece. Mas, se eu mantiver o “terreno” saudável, eu e minhas células cancerosas continuaremos a conviver como bons vizinhos por um tempo ? talvez um longo tempo.
A EXPERIÊNCIA COMO PACIENTE ? Foi difícil aceitar que eu era simplesmente um paciente. Eu me agarrava como podia ao status de médico e ia às consultas de jaleco e crachá. Mas consegui perceber exatamente como se sente um doente. Muitas vezes tinha a sensação de que ninguém se interessava por quem eu era, como se todos só quisessem saber o resultado da minha última tomografia. Eu sempre me considerei o tipo de médico gentil e atencioso com meus pacientes, mas a doença me fez ver que meu comportamento estava muito longe do ideal. Depois disso, mudei radicalmente o modo de praticar a medicina.
O ENFRENTAMENTO DA MORTE ? Se há algo de bom em ficar cara a cara com a morte é que se compreende quanto a vida é preciosa. Esse enfrentamento mostra que não se deve desperdiçar a chance de contribuir de alguma forma para a existência dos outros ? é isso que fica depois que você vai embora. Apesar de conviver permanentemente com a ameaça de o tumor voltar, eu consigo levar uma vida normal. Na verdade, sinto-me muito mais saudável fisicamente e mais “normal” emocionalmente do que antes de saber que tinha câncer. O que eu fiz para mudar a minha vida me tornou uma pessoa mais equilibrada em todos os sentidos.
O PESO DO ESTILO DE VIDA ? Durante muito tempo, acreditou-se que o câncer era, sobretudo, uma questão de genética ? e um mal inevitável para quem está propenso a ele. O crescimento no número de casos da doença mostra que a influência dos fatores externos, como os hábitos de vida e o ambiente, é mais impactante na manifestação do câncer do que os genes. A genética é responsável por apenas 10% a 15% dos casos. Defendo a teoria de que todos temos um câncer dormindo dentro de nós. É nosso estilo de vida que vai ou não determinar seu desenvolvimento ? seja nutrindo as células cancerosas, seja alimentando os mecanismos de defesa do organismo que impedem a formação de um tumor. O diagnóstico de câncer, porém, não deve jamais criar um sentimento de culpa no paciente. Eu não me sinto culpado nem por um segundo por ter desenvolvido câncer. Eu não fazia a menor idéia de que estava exposto a tantos fatores pró-câncer na minha vida. E talvez eu nunca saiba quais deles foram os mais críticos. Mas conhecer os mecanismos biológicos anticâncer no meu organismo me dá força para enfrentar a doença.
A IMPORTÂNCIA DA DIETA ? A alimentação é um elemento-chave na luta contra o câncer ? o mais essencial deles, na minha opinião. Pode-se atribuir à dieta a razão principal para a expansão da doença. Nos últimos cinqüenta anos, houve três mudanças muito significativas em nossa alimentação: o aumento do consumo de açúcar refinado, a utilização de produtos químicos na fabricação dos alimentos, como corantes e conservantes, e a mudança do padrão alimentar de animais como vacas e frangos. O consumo de açúcar refinado, que em 1830 era de 5 quilos por pessoa, no ano 2000 chegou a inacreditáveis 70 quilos per capita. Atualmente, os ovos têm vinte vezes mais ômega-6 do que nos anos 70. Em excesso, esse tipo de gordura, usado na ração das aves, facilita o acúmulo exagerado de células adiposas.
AS FERIDAS PSÍQUICAS ? Nós estamos apenas começando a entender como os fatores psicológicos influenciam o surgimento de um câncer. Muitos pacientes com quem conversei se lembram de um stress emocional muito forte nos meses ou anos que precederam o diagnóstico de câncer. Certos acontecimentos são tão dolorosos que destroem a imagem que fazemos de nós mesmos ou minam a confiança que tínhamos em alguém. É o caso de alguns rompimentos amorosos. Algumas feridas psíquicas não cicatrizam sozinhas. É preciso encontrar formas de lidar com elas, pois essas feridas repercutem em todo o organismo.
MEDICINA TRADICIONAL X MÉTODOS ALTERNATIVOS ? Eu diria que o tratamento convencional salvou a minha vida, mas não me ajudou a prevenir a recorrência do câncer. A relação entre estilo de vida e câncer é tão estreita e evidente quanto a associação entre os hábitos cotidianos e as doenças cardiovasculares. O que me surpreendeu ao constatar isso foi o fato de que ninguém nunca havia me falado sobre tais evidências ? nem meus professores na faculdade de medicina nem meus próprios oncologistas. Opções de vida mais saudáveis, como meditação e alimentação equilibrada, foram e são cruciais para o fortalecimento de meu organismo contra a doença. Em minha opinião, tanto os recursos da medicina convencional como os métodos alternativos são indispensáveis e complementares.
O PAI ? Quando eu e meus irmãos éramos pequenos, meu pai fazia questão de jantar com os filhos. Por causa de sua vida pública, havia quase sempre convidados em casa e ele insistia para que nós, as crianças, nos sentássemos à mesa. Éramos estimulados a fazer perguntas e participar das discussões. Tenho certeza de que isso me ajudou quando chegou a minha hora de questionar as posições da medicina tradicional. Quando meu pai foi diagnosticado com Alzheimer, ele se tornou, por incrível que pareça, uma pessoa mais suave e tranqüila. Era terrível vê-lo roubado de suas capacidades intelectuais, mas havia também algo de belo quando ele, com um sorriso, dizia: “Finalmente, eu posso simplesmente ser quem eu sou”.
Entrevista com David Servan-Schreiber (Folha Sinapse – Folha de S. Paulo, 10/2003)
FERNANDO EICHENBERG
free-lance para a Folha de S. Paulo, de Paris
O neuropsiquiatra David Servan-Schreiber recebeu a Folha de S.Paulo em seu apartamento em Paris, onde falou sobre as idéias expostas no seu livro “Guérir”. Confira, abaixo, trechos da entrevista.
Folha – Segundo o sr., vivemos sob a tirania dos medicamentos psicotrópicos, receitados de forma abusiva para combater o estresse, a ansiedade e a depressão.
David Servan-Schreiber – Muitas pessoas tiveram a vida salva pelos antidepressivos. Hoje, eles provocam muito menos efeitos secundários que no passado. O que não é normal é o desequilíbrio com que são utilizados. Um francês em cada sete toma antidepressivo ou ansiolítico. Nos EUA, cerca de 10 milhões de americanos tomam antidepressivos. Isso é anormal. O lítio e outros medicamentos são muito eficazes. O importante é utilizá-los em casos legítimos e justificados. Essa medicina não reconhece que o corpo e o cérebro emocional têm sua própria capacidade de adaptação e reequilíbrio.
Folha – Em relação à psicanálise, o senhor chegou a dizer que, praticada seguidamente, é uma perda de tempo.
Servan-Schreiber – O que eu digo é que o objetivo da psicanálise não é curar. E foi Jacques Lacan [1901-1981] quem disse isso. Ele afirmou: “O objetivo da psicanálise é a compreensão de si mesmo, e a cura, quando ocorre, é um benefício em acréscimo”. Eu sou médico, e o que me interessa é a cura. Toda minha vocação e meu interesse pela medicina está em aliviar o sofrimento. É bastante presunçoso escrever um livro com o título “Guérir” [”curar”], mas me permiti fazê-lo porque a definição de cura é muito simples: quando os sintomas da doença desaparecem e não retornam. O que constatei —e está nos livros científicos— é que vi repetidamente pessoas serem curadas desses males por esses métodos naturais, e os sintomas não reapareceram. Então, pode-se falar de cura. Apresente-me um estudo sobre a psicanálise que mostre isso. Não conheço nenhum. Mas não se trata de dizer que a psicanálise é uma perda de tempo. Depende do que você quer.
Folha – Por que falar, hoje, da medicina de “autocura pelo corpo”?
Servan-Schreiber – Se eu corto o dedo e provoco uma ferida, em alguns dias ela estará cicatrizada, e logo nem saberei mais onde foi o corte. No cérebro emocional, temos os mesmos tipos de mecanismos de adaptação, de cicatrização, que podem ser aprendidos por métodos naturais. Passei 20 anos estudando o cérebro. Pude constatar a eficácia desses métodos naturais de tratamento, os quais nunca me foram ensinados na universidade. Quando constatei que esses métodos funcionavam, e ainda melhor se comparados aos métodos tradicionais que havia aprendido, resolvi falar deles. Mas não inventei nada. Tudo o que está no meu livro são métodos já citados na literatura científica.
Folha – O que é essa “nova medicina emocional”?
Servan-Schreiber – A idéia central não é minha, mas, sobretudo, de António Damásio, que é para mim o maior neurocientista do mundo. Nos seus livros, ele diz que as emoções são emanações de tudo que se passa no corpo. A emoção é a sensação percebida do estado da fisiologia. Não há nenhum sentido em separar as emoções do que ocorre no corpo. Se vamos até o fundo da tese de Damásio, devemos passar pelo corpo, pelo estado da fisiologia, para transformar e curar os problemas das perturbações emocionais. O controle da coerência cardíaca, a hipnose usando os movimentos oculares, a terapia pela luz e pela simulação do nascer do Sol, a acupuntura, a nutrição, o exercício físico e também a importância do afeto, tudo isso são formas para aprender a utilizar o cérebro emocional e entrar em conexão para colocar a fisiologia no seu estado ótimo. Eu pego as idéias de Damásio e as levo até o limite, coloco sua teoria em prática. Aliás, é o que ele mesmo diz.
Folha – Alguns dos métodos que o sr. prega foram modismo nos anos 60 e 70, período fértil em terapias alternativas e de difusão do ioga e da acupuntura. A que o sr. credita o sucesso de seu livro hoje?
Servan-Schreiber – A primeira razão está relacionada ao fato de que se ouviu muito falar desses métodos por pessoas que não tinham credibilidade científica. O que interessava ao público era ouvir alguém como eu, que comandou o serviço de psiquiatria num hospital de uma grande universidade ortodoxa de medicina convencional, falando sobre isso. A mensagem nova foi alguém assim dizer que há coisas na literatura científica que funcionam bem e não são utilizadas como poderiam. Outra razão está relacionada a um movimento planetário, em que as pessoas desejam uma indústria não poluente e que produza, mesmo assim. Elas desejam uma agricultura que as alimente, mas que não as envenene. E o mesmo vale para a medicina, que utilize as capacidades do corpo para se reequilibrar, e que seja uma medicina “ecológica”, natural.
Folha – Em resumo, seus métodos não trazem nenhuma novidade, mas a comprovação científica de técnicas já conhecidas.
Servan-Schreiber – A idéia de que se pode ser curado pela nutrição não é nova. Hipócrates já dizia isso. Acupuntura, nutrição, exercício físico, nada disso é novo. A coerência cardíaca é inspirada em tipos de meditação que datam de 5.000 anos. O novo é que começamos a ter estudos científicos que mostram que os métodos funcionam. Graças às novas técnicas de obter imagens do cérebro em atividade, começamos a entender como funciona a acupuntura, como certos pontos podem anestesiar o centro de ligação da ansiedade no cérebro. Isso é apaixonante. Na questão da nutrição, começamos a perceber no nível bioquímico a importância dos ácidos graxos ômega 3 na própria constituição das membranas neuroniais, no equilíbrio emocional e no controle das reações de inflamação no corpo. Isso é revolucionário. Sabíamos que a nutrição era importante, mas não com tanta precisão. O estudo sobre o papel dos animais de companhia no equilíbrio emocional data dos últimos cinco anos. Não é nenhuma novidade dizer que ter um gato ou um cachorro faz bem. Mas, sem os estudos científicos, não podíamos recomendar isso num dossiê médico no hospital. Por isso me senti capaz de colocar tudo num livro, com argumentos que pudessem convencer os leitores. Os estudos científicos são novidade, mas a maioria dos conceitos são antigos.
Folha – E quanto à coerência cardíaca?
Servan-Schreiber – A noção de coerência cardíaca é nova. Há uns 15 ou 20 anos compreendemos a importância da variabilidade do ritmo cardíaco em cardiologia. Mas sua compreensão no controle das emoções, sua importância para o controle do cérebro, começou a ser compreendida há cinco anos. Data de milênios a idéia de que se pode controlar o corpo pela respiração e pela concentração. Os budistas, por exemplo, compreenderam isso há 2.500 anos. Mas compreender como ela atua e precisar como se pode fazer isso da forma mais eficaz possível é que é novo.
Folha – O tipo de hipnose citado, que trabalha com a reprogramação dos movimentos oculares, pode realmente ajudar a resolver problemas emocionais?
Servan-Schreiber – A idéia de que se pode utilizar o movimento dos olhos e focalizar no corpo para estimular os mecanismo de digestão dos traumas emocionais foi inteiramente desenvolvida por Francine Shapiro, na Califórnia, em 1982. Há 14 estudos devidamente testados que provam esse método, recomendado por instituições médicas em vários países. O método foi aceito pelos ministérios da Saúde da Inglaterra, da Irlanda e de Israel. Mas ainda é algo bastante controverso. Há muitas pessoas que, apesar dos estudos científicos, não querem acreditar que funciona, porque não entendem como funciona.
Folha – O senhor diz que os Estados Unidos destinam anualmente US$ 115 milhões para experimentação e avaliação desses métodos. Há um grande atraso nessas pesquisas nos demais países?
Servan-Schreiber – A França é um caso particular, porque o público é extremamente aberto, e as instituições, extremamente conservadoras. Há uma tensão incrível. Era o caso nos EUA, e foi preciso um grande esforço para chegar aonde se está hoje. Foram os parlamentares que obrigaram o Instituto Nacional de Saúde americano a criar um centro de pesquisas sobre as medicinas complementares. Depois, a coisa decolou. Nunca houve um aumento de orçamento tão rápido. Começou com US$ 1 milhão por ano, em 1992, para chegar a US$ 110 milhões, em 2002.
Folha – O senhor relata no livro experiências realizadas em empresas. Existe algum programa de utilização desses métodos nas escolas?
Servan-Schreiber – Sei que existe um projeto em estudo pelo Ministério da Educação da Grã Bretanha envolvendo cerca de 40 mil alunos, para ensiná-los a praticar a coerência cardíaca para melhor administrar suas emoções e suas próprias capacidades de concentração. Por enquanto, ainda é um projeto piloto.
Folha – Suas teses têm provocado polêmica na comunidade científica?
Servan-Schreiber – Até agora, não houve um verdadeiro debate na França. Na Suíça, há neurologistas e psiquiatras que discordam das minhas teses. Fico extremamente contente com esses debates. A principal crítica que recebo é do tipo “se tudo isso fosse verdade, todos saberiam”, e não aceito esse argumento. Tudo já é sabido, está escrito nos livros científicos, mas o problema é que há pouca motivação para desenvolver essas técnicas. Não se pode patenteá-las, pois são técnicas naturais. Ninguém poderá patentear os peixes que têm ômega 3, o controle da respiração, a acupuntura, os exercícios físicos, o afeto, a luz, a hipnose. Portanto, não se poderá ganhar dinheiro com essas patentes, o que é uma motivação a menos. Em segundo lugar, todos esses métodos exigem muito mais tempo do médico do que escrever uma prescrição de Prozac, que leva dois minutos.
Folha – O seu discurso, por vezes, assemelha-se a aforismos budistas.
Servan-Schreiber – Gosto bastante da expressão “mind-body medicine” [”medicina do corpo e da mente”]. Ela define a integração do que existe de melhor na medicina convencional com o que funciona nessa medicina que utiliza as capacidades de autocura do organismo. Mas não é preciso se tornar um budista. Estive recentemente num debate com o dalai-lama [líder espiritual do budismo tibetano], em Boston, e ele disse ao final de sua conferência: “Você não precisa crer na reencarnação, no nirvana ou nas divindades budistas. Comece simplesmente tendo mais emoções positivas do que negativas e a concentrar seu espírito e sua atenção nisso. Já assim você começará a ser um ser humano muito mais evoluído”.
Leia trecho do livro Sete Passos para Curar – Guia Prático da Nova Medicina das Emoções, de David Servan-Schreiber
Carta aos leitores de CURAR
Caras leitoras e caros leitores,
Antes de mais nada, quero agradecer o apoio que deram a meu livro. Com ele, é uma nova medicina das emoções que vocês apóiam. E eu não esperava tamanho entusiasmo por idéias ainda estranhas aos modos de pensar habituais.
O sucesso do livro, que se deve a todos vocês, vem dessa abertura de espírito, da curiosidade que demonstraram, do desejo de explorar novos caminhos. Reconheço-me em cada um desses traços, mas não sabia que somos tantos a compartilhá-los. Para mim, é um sinal bastante encorajador de que, juntos, consigamos talvez fazer com que as mentalidades evoluam. Sinal de que, talvez, possamos levar nossas instituições científicas e médicas a investirem suas pesquisas também nesses novos e fascinantes campos.
Muitos de vocês me escreveram. Recebi, a cada semana, mais de 100 cartas. Essa confiança envaidece-me e me encoraja. Várias dessas mensagens me contam um sofrimento, uma dor, pessoal ou de um próximo, e pedem ajuda. Cada um desses relatos me interpela e sinto realmente vontade de ajudá-los. Porém, me é impossível fazer frente a solicitações tão numerosas (mesmo se é tão difícil dizer “não”…). Não recebo mais nenhum paciente, conservando o pouco do tempo que me resta para aqueles que já estavam em tratamento comigo antes da publicação de CURAR. Quero, sobretudo, reservar meu tempo para escrever e para formar novos terapeutas, que poderão dar continuidade em escala bem maior aos métodos expostos no meu livro.
Creio que somos testemunhas de uma vaga profunda que atravessa todas as sociedades ocidentais: uma demanda, vinda de cada um, e em todos os lugares, por uma indústria que respeite o meio-ambiente, por uma agricultura que respeite a terra e, agora, também por uma medicina que respeite as capacidades que tem nosso corpo de recuperar seu próprio equilíbrio. São vocês os verdadeiros agentes dessa transformação social, e fico feliz em fazer parte daqueles que podem ajudar a canalizar toda essa energia.
Estabeleci para mim mesmo, como prioridade, a tarefa de tornar os métodos de CURAR acessíveis ao maior número de pessoas. Isso me conduziu ao ensino, para perto de colegas médicos, psicólogos e psicoterapeutas. Mas levou-me ainda a ações de ordem mais “política”, junto às agências governamentais e aos decididores de toda espécie, tanto na França quanto nos Estados Unidos, onde ainda leciono. E, talvez já tenham ouvido falar, comprometi-me também em tornar disponível um complemento alimentar Ômega-3 cuja concentração e pureza correspondam ao que foi testado nos estudos científicos da psiquiatria. Como esse tipo de complemento não é patenteável (não se pode patentear o peixe!), nenhum indústria farmacêutica julgou rentável engajar-se nesse campo. Orgulho-me de ter conseguido fazer com que esses complementos Ômega-3, da melhor qualidade e pureza possíveis, possam hoje ser encontrados em qualquer farmácia. Mas tudo isso demandou tempo e exigiu esforços consideráveis que me desviaram de uma conexão mais estreita com todos vocês.
Esses importantes passos devem-se às decisões de grandes agências institucionais, no Reino Unido, nos Estados Unidos e na França:
1. Um relatório do governo do Reino Unido demonstrou que 70% dos antidepressivos receitados jamais deveriam ter sido utilizados. Foram prescritos para depressões consideradas “menores ou moderadas” para as quais, segundo esse relatório, seria recomendável utilizar primeiro métodos mais “naturais”, antes de pensar em receitar medicamentos cujos efeitos secundários parecem cada vez mais claros para a comunidade médica científica.
2. Em seguida, a prescrição de antidepressivos para as crianças (à exceção do Prozac) foi proibida no Reino Unido e é alvo hoje de restrições consideráveis nos Estados Unidos. Com efeito, ficou comprovado que, no caso das crianças, os benefícios que esses medicamentos trazem não são (ou são apenas em proporção mínima) superiores aos de um placebo. Sabe-se também que provocam um aumento significativo do risco de suicídio. Isso, naturalmente, fez com que médicos e psiquiatras se sentissem um tanto desamparados, pois não aprenderam em sua formação a utilizar métodos alternativos aos medicamentos. Mas, ao mesmo tempo, isso também criou um ambiente bastante propício à incorporação, pela medicina convencional, de alternativas naturais e eficazes.
3. Por fim, o método de Dessensibilização e Reprocessamento pelo Movimento Ocular, o EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing), foi reconhecido oficialmente, na França, como um método de tratamento eficaz (pelo relatório da comissão do INSERM٭ concernente às psicoterapias) e, mais recentemente, também nos Estados Unidos (por um relatório da prestigiadíssima American Association of Psychiatry, cuja influência abrange o mundo inteiro).
Graças, em parte, a esses desenvolvimentos todos, a psiquiatria convencional começa a abrir verdadeiramente seus horizontes às novas idéias. Em todos os lugares, inicia-se um debate em torno daqueles métodos de que eu falava em CURAR. Seu reconhecimento oficial permitiu também estimular novos projetos de pesquisa. De fato, são as pesquisas que farão com que uma abordagem mais natural da medicina penetre realmente no interior das instituições médicas.
Mas é verdade também que cada um de vocês, conversando com seu médico ou com seu terapeuta a respeito do EMDR, de coerência cardíaca, da acupuntura, de exercício físico ou do Ômega-3, contribuiu grandemente para difundir a mensagem. Vocês fizeram ouvir o desejo manifesto por uma medicina ao mesmo tempo mais humana e mais racional, uma medicina que saiba utilizar as capacidades intrínsecas de nosso corpo e de nosso cérebro a se curarem por si mesmos.
Para concluir essa breve introdução, aprendi recentemente que a palavra que designa, em chinês antigo, “O Pensamento” é composta por dois caracteres: aquele do “Cérebro” (em cima) e aquele do “Coração” (em baixo). Eu o ofereço aqui a todos vocês, com votos de harmonia entre seu cérebro e seu coração.
Com um abraço,
David Servan-Schreiber
QUESTÕES GERAIS
Q.: O senhor conhece médicos clínicos que utilizam as técnicas descritas em CURAR? Infelizmente, na França ainda não. No centro de medicina complementar que eu dirigia na universidade de Pittsburgh, reunimos médicos, psicoterapeutas, acupunturistas, nutricionistas que compartilhavam a mesma filosofia e organizavam avaliações e programas de tratamento completos. Espero, finalmente, ajudar a instalar esse mesmo tipo de centro clínico na França. Enquanto isso, recomendo a todos que organizem seu próprio tratamento, em parceria com as recomendações de seu médico ou de seu psiquiatra.
Q.: Os métodos recomendados em CURAR são compatíveis com um tratamento convencional? Os métodos descritos em CURAR são todos absolutamente compatíveis com um tratamento convencional e não exigem, de modo algum, que este seja interrompido, nem modificado. Eu mesmo muitas vezes tratei com o EMDR (Método de Dessensibilização e Reprocessamento pelo Movimento Ocular) pacientes que seguiam sua psicanálise com outro terapeuta ou que usavam medicamentos prescritos por seu psiquiatra.
Q,: Como, concretamente, começar um tratamento? Se você acha que o EMDR lhe trará benefícios, sugiro que procure um terapeuta com um certificado de “Clínico EMDR”, fornecido pela Associação EMDR-Europa. É uma garantia de que o terapeuta tenha seguido uma formação completa e participado de um ciclo de supervisão sob a égide de um clínico mais experimentado.
No que diz respeito à coerência cardíaca¸ ainda muito recente na Europa, só posso recomendar que acompanhe cursos de Hatha Yoga – método multimilenar que utiliza técnicas respiratórias e de concentração que levam a um estado fisiológico do corpo comparável àquele descrito em CURAR.
Cabe a você, em seguida, modificar seu regime alimentar para reequilibrar a relação Ômega-3/Ômega-6 e reduzir as gorduras animais saturadas. Voltarei adiante aos suplementos Ômega-3.
Cada qual pode escolher seu próprio programa de exercício físico, conforme às recomendações gerais retiradas da literatura científica e que eu enuncio em CURAR. Você pode também providenciar uma lâmpada de simulação da aurora para despertar de modo mais natural e ajudar a estabilizar seus ritmos biológicos.
Enfim, cada um deve, do meu ponto de vista, preocupar-se em administrar melhor os conflitos – quer sejam profissionais ou pessoais. Uma das melhores maneiras de progredir neste campo é formar um grupo de reflexão com amigos ou próximos para que possam exercitar-se em conjunto aplicando os métodos SPA-CEE e Perguntas de ELFE. É, aliás, o que eu mesmo faço regularmente, com alguns amigos, para continuar bem “centrado” nessa abordagem das relações humanas.
Q.: É possível beneficiar-se de seus métodos sem gastar muito? Infelizmente, os métodos que descrevo em CURAR não são ainda – a grande maioria deles –, na França, reembolsáveis pela Seguridade Social, ficando portanto reservados àqueles que podem pagar por sua saúde. É um estado de coisas que me parece inaceitável e faço o que posso para mudá-lo. Quanto mais se avolumam os estudos científicos que demonstram sua eficácia (como é o caso do EMDR, mas também da nutrição e dos Ômega-3, ou ainda da coerência cardíaca), mais fácil será incorporar essas abordagens à oferta reembolsável da medicina convencional.
Nesse entretempo, o Instituto Francês de EMDR que coordeno e que é responsável pelo ensino do EMDR na França forma gratuitamente alguns terapeutas que trabalham exclusivamente em meios desfavorecidos, de modo a permitir que pratiquem o EMDR junto a seus pacientes. Todos os terapeutas interessados nessa possibilidade podem entrar em contato com o programa humanitário da associação francesa de EMDR, no site da internet www.emdr-france.org.
É possível também começar a praticar alguns dos métodos descritos em CURAR sozinho – como o despertar com a aurora natural, a coerência cardíaca, o exercício físico, a mudança alimentar ou a comunicação emocional –, e eu recebo com freqüência testemunhos de leitores que começaram a praticá-los por conta própria e constataram notáveis transformações em suas vidas.
Q.: O senhor aconselha outros livros? Existem outros métodos que lhe interessam? Sempre me interesso por novas abordagens. Decidi, porém, consagrar meu tempo e minha energia a fazer avançar essas que já conheço bem, cujos efeitos estão demonstrados e que, ainda assim, continuam a não ser utilizadas o suficiente, principalmente porque não podem ser patenteadas e, portanto, não provocam interesse econômico capaz de impulsionar sua introdução na medicina convencional.
Q.: Poderia indicar um método simples de meditação que melhore o funcionamento do Qi? Segundo a medicina tradicional chinesa ou tibetana, todos os métodos de meditação facilitam o funcionamento do Qi. O método que focaliza unicamente este aspecto chama-se o Qi Gong (pronunciar “Tchi Gong”).
Q.: A música, ouvida ou praticada, pode ajudar no caso de depressão?
Claro! Embora haja poucos estudos a esse respeito (isso não dá patente e, sem patentes em vista, sem dinheiro para pesquisas…), inúmeros pacientes relatam como o fato de ouvir música pode ter um efeito poderoso sobre seu humor. Acho que é certamente ainda mais eficaz quando você próprio toca um instrumento, sobretudo em grupo, se possível, para estimular nosso cérebro emocional nos momentos de desencorajamento e pô-lo em fase com os ritmos e as melodias da vida que passa em nós e à nossa volta. Nos Estados Unidos, participei várias vezes de “drum circles” (“círculos de percussão”), nos quais várias pessoas que mal sabiam bater num tamborim aprendiam a tocar ritmos diferentes que se transformavam em verdadeira melodia quando o grupo encontrava seu equilíbrio. Não há dúvida alguma que esses são momentos particularmente exaltantes e que nos lembram a força de nossa conexão com os outros. Escrevi, a respeito dessa experiência, uma crônica para Psychologies, que pode ser consultada no link http://www.psychologies.com/chroniques.cfm/ chroniqueur/5/1/David-Servan-Schreiber/index.html (crônica de novembro de 2004: “A música também cura”).
1 COMUNICAÇÃO EMOCIONAL
Q.: Poderia dar alguns conselhos que ensinem a se autocontrolar no caso de situações de conflitos profissionais? A primeira coisa a fazer é inspirar, por meio de duas grandes respirações, lentas e profundas, e em seguida começar a expirar o stress, antes de reagir. Lembrar, depois, que os conflitos são inevitáveis, mas não seu envenenamento, provocado por nossas próprias reações, muitas vezes exageradas ou até mesmo violentas.
Q.: Qual a diferença entre antidepressivo e neuroléptico? Os neurolépticos bloqueiam o estímulo de certas zonas do cérebro pela dopamina. São utilizados principalmente nos distúrbios do pensamento (alucinações, delírios, paranóia) e, às vezes, para acalmar um episódio maníaco ou uma hipersensibilidade ao julgamento alheio. Os antidepressivos, por sua vez, aumentam esse estímulo por neurotransmissores, como a serotonina, a noradrenalina e, em alguns, também a dopamina. Têm menos tendência que os neurolépticos a reduzir a percepção e as sensações. Também revelam menos efeitos secundários a longo prazo.
Q.: Seus métodos são adaptados aos distúrbios bipolares? Os distúrbios bipolares parecem ter uma base biológica e genética mais profunda que as depressões não-bipolares. Todavia, é certo também que os episódios de depressão ou de mania dos distúrbios bipolares são muitas vezes provocados por um período de stress mal administrado e mal vivido. Na medida em que os métodos de que falo em CURAR tornam-nos mais resistentes ao stress, eles também reduzem, consequentemente, a probabilidade de recaídas para quem sofre de uma doença bipolar. Recomendo porém aos pacientes bipolares que continuem a tomar um estabilizador de humor, como o lítio ou o depakene, de eficiência já comprovada na prevenção das recidivas e que são em geral bem tolerados.
Q.: Suas técnicas podem ser utilizadas para dores crônicas? No centro de medicina complementar de Pittsburgh que eu dirigia, utilizávamos frequentemente a meditação (ou a coerência cardíaca) e a acupuntura como métodos de auxílio no tratamento das dores crônicas. O EMDR pode também ser útil quando as dores têm por origem um acontecimento que pode ter sido psicologicamente traumático (como um acidente de carro ou uma violência sexual).
Q.: Seu método pode resolver, ou ajudar a resolver, uma depressão ligada não a um evento traumático particular, mas à dupla influência da hipersensibilidade aos acontecimentos e a uma infância difícil? No caso de uma infância difícil e de traumatismos emocionais reiterados, o EMDR muitas vezes é eficaz, mas exige um período necessariamente mais longo de tratamento (em geral de 6 meses, ou ainda mais tempo).
Q.: Pode-se de fato substituir os antidepressivos pelos ÔMEGA-3 e pelas caminhadas? Os estudos disponíveis sugerem que a caminhada é tão eficaz quanto um antidepressivo moderno (inibidor da re-captura da serotonina) e que, um ano depois do fim do tratamento, as recidivas são 4 vezes menos freqüentes. É bastante provável, todavia, que, nesses estudos, os sujeitos que melhoraram com a prática da caminhada tenham continuado a exercitá-la por conta própria ao passo que aqueles que usaram com proveito o antidepressivo muito provavelmente interromperam o tratamento.
Até agora, os trabalhos referentes aos Ômega-3 sugerem que eles são eficazes em sujeitos cujos sintomas de depressão resistiram a vários antidepressivos sucessivos enquanto continuam a usar o último daqueles com que começaram o tratamento. Não dispomos ainda de estudos que permitam afirmar com certeza que um antidepressivo que se revelou eficaz possa ser completamente substituído por um suplemento alimentar de Ômega-3.
Q.: Pode falar um pouco mais a respeito das depressões “hereditárias” fisiológicas, às quais fez apenas breves alusões em CURAR? A depressão pode muito bem possuir um componente hereditário, sobretudo quando um dos pais sofreu de depressão severa (ou outra doença psiquiátrica) necessitando de internação hospitalar. Em alguns desses casos, os antidepressivos (ou outros medicamentos psicotrópicos) são às vezes absolutamente indispensáveis. Todavia, é importante, mesmo quando os medicamentos são obviamente úteis, utilizar toda a capacidade de resiliência do cérebro emocional para maximizar seus efeitos. Não há nenhuma contradição em utilizar, ao mesmo tempo, a coerência cardíaca, o EMDR, o exercício físico, a acupuntura, ou tomar os Ômega-3. Nem em acordar com a luz do nascer do sol (simulada ou não) ou cuidar de bem administrar suas relações afetivas. Muito ao contrário.
Q.: Vi na Internet que existe um legume, chamado atmagupta, utilizado pela medicina ayurvédica para tratar o mal de Parkinson. Este legume contém levodopa. Conhece este tipo de tratamento natural para a doença? Saberia onde encontrar esse legume? Não conheço esse legume. A Levodopa é um precursor da dopamina, neurotransmissor cruelmente ausente naqueles que sofrem do mal de Parkinson. É portanto bem possível que qualquer fonte nutricional desse precursor importante seja útil no combate à doença. Todavia, a prescrição da Levodopa como medicamento é geralmente acompanhada de um inibidor da enzima que torna a Levodopa particularmente inativa antes que possa ser transformada no cérebro em dopamina. Seria preciso, portanto, muito provavelmente, ingerir grandes quantidades desse alimento – se ele for realmente eficaz – para obter um efeito sobre a dopamina do paciente.
A tirosina, um ácido aminado que se encontra facilmente nas parafarmácias sob a forma de complemento alimentar, é outro precursor da dopamina às vezes bastante útil àqueles que sofrem do mal de Parkinson (deve-se tomá-la duas vezes ao dia, 2000 mg, 45 minutos antes de uma refeição). Não conheço relato de efeitos secundários.
Q.: Ao exercício, então, David! Mas, vamos reconhecer, é muito chato fazer exercícios. Você, porém, afirma: “não é preciso muito”… Sim. Por sorte, não sou quem diz, ou não acreditariam em mim, necessariamente! São os estudos que o afirmam, e é isso que é fascinante. Pesquisas recentes realizadas na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, demonstraram que, para a depressão, por exemplo, o exercício físico, 3 vezes por semana, 30 minutos a cada vez, é tão eficaz quanto tomar um antidepressivo.
Q.: Mas, 30 minutos de que? Salto de vara, crawl intensivo…? Isso depende da idade das pessoas. Mas, num dos estudos em que os sujeitos tinham entre 50 e 77 anos, simplesmente eles faziam 30 minutos de marcha rápida. Quer dizer que…
Q.: Nem correr? Nem correr. Caminhavam ao ar livre. Mas é preciso andar rápido. Dizem que o que é preciso conseguir, e não necessariamente a primeira vez, é encontrar um ritmo em que se pode conversar, fazendo o exercício, mas não cantar.
Q.: E isso cura? Sabe-se, agora, que isso é de fato eficiente.
Q.: Em quanto tempo? Três meses? Três anos? Não, isso leva… Nos estudos já realizados notou-se que em 6 semanas os efeitos eram notáveis e que no final de 4 meses obtinha-se o mesmo efeito de um antidepressivo. É um pouco mais lento que um antidepressivo. Um antidepressivo leva mais ou menos duas semanas para fazer efeito e, com os exercícios, é preciso esperar entre 2 e 6 semanas antes de notar uma real diferença. Mas, sentimo-nos melhor desde o início, porque nosso corpo foi estimulado.
Estou fazendo uma matéria sobre o ambiente virtual Second Life e gostaria de sua opinião sobre este fenômeno. No caso do Second Life, as pessoas criam um avatar – que grosso modo, seria uma personificação virtual dela, para interagir e viver em um mundo que ela vai construindo, onde tudo é simulado (criam-se cidades, fazem-se negócios, freqüentam shows e etc.).
Destaco aqui um trecho da minha matéria para que o senhor entenda um pouco mais.
Desenvolvido em 2003 pela Linden Research, o Second Life (SL) é modelado em desenhos vetoriais em 3D, combinados com texturas. Para muitos é um jogo, pois reúne característica como de competição social (é possível ganhar ou perder dinheiro, o Linden Dollar – L$; competir para participar de grupos sociais); mudar a aparência; construir casas, comprar objetos. Para outros, suas características o aproximam de um simulador que imita aspectos da vida social do ser humano. Há quem pense ainda que o SL é um comércio virtual, onde muitas empresas reais estão fazendo negócios; ou uma rede social, onde amigos e conhecidos podem criar um mundo apenas seu.
Entre avatares – representações virtuais das pessoas do mundo real – e ilhas – espaços territoriais – o SL segue crescendo no Brasil, que já é o terceiro colocado no ranking mundial de usuários do ambiente, com mais de 400 mil usuários, segundo dados da mídia especializada.
Seguem as perguntas abaixo:
Segundo matéria do jornal O Estado de S. Paulo (julho/2007), foi abandonado 80% dos oito milhões de avatares inicialmente registrados no Second Life. No Brasil, 36.385 avatares estão ativos, colocando o país como terceiro do ranking em usuários do SL em todo o mundo. Mas, a tendência mundial é de queda. Contudo, no Brasil, o número de usuários varia de 200 mil a 600 mil e tende a crescer.
Em sua opinião, o que leva algumas pessoas a se “entregarem” mais a redes virtuais do que tentar construir relacionamentos reais?
Seguem três argumentos sucintos, misture-os e terá as respostas:
1- Na natureza existem entre os animais processos de camuflagem como o mimetismo, a tanatomimese, por exemplo, simular a morte.
Um antílope pode enganar uma leoa, note bem, isto é muito importante, ele finge tão bem que poderá escapar se a leoa abaixar a guarda. Nós temos esta capacidade lá dentro de nossa evolução. Algumas pessoas deprimidas passam por este mecanismo e podem realmente acreditar que estão mortas.
Seres humanos são hábeis em simular, foi assim que evoluímos. Inventamos o Zero, a representação do nada; a possibilidade de enganar/fingir, de ludibriar animais e a nós próprios. Criamos armadilhas, prendemos animais muito mais fortes pela nossa esperteza. Criamos dentes poderosos = lanças. Simulamos tudo, plantas p/ prédios, pontes, represas, etc. Maquetes. Treinamos aviadores em simuladores, alunos de medicina, psicologia, etc. O mundo do faz de conta. Um ambiente de treino, de simulação, para a vida real. Assim, um piloto, um surfista, um psicólogo, um médico, seja lá a atividade que for, primeiro você treina para depois exercer com segurança aquela atividade para a qual foi treinado… Ganha a sua carteira de habilitação.
2- Além disto, na pré- adolescência há uma mudança significativa no cérebro, só agora estamos compreendendo isto, graças às técnicas mais evoluídas como a ressonância magnética funcional. Forma-se/aprimora-se então o Sistema de Recompensa, este é básico para a formação de vícios/compulsões. Daí o perigo das drogas nesta fase mais do que em outras. Sejam as lícitas, como novelas, chocolates e bebidas, como as ilícitas (cocaína, etc.).
3- Logo, a maioria de nós se baseia em planos p/ o futuro; faz parte de nossa capacidade de simular, desejamos ser isto ou aquilo outro. O corpo tal, a roupa tal, ser como ele ou ela, etc.
Então temos metas, e de acordo com a distância entre o que somos e o que queremos ser, temos níveis e graus de incongruência, assertividade.
Na internet podemos ser tudo, é virtual e bem mais fácil, caímos presas de nossa vantagem evolutiva… Simular… Somos bons nisto, bons o suficiente p/ em certos casos acreditarmos em nossas próprias mentiras.
Em sua opinião, o que leva os usuários brasileiros a abraçarem as redes sociais virtuais, como Orkut e Second Life?
A anomia é um fenômeno psicossociológico importante na composição desta resposta. Significa não acreditar nas regras (a = negação; nomus = regra).
Trata-se de não se acreditar mais nas regras do sistema, do Status Quo. Funciona paralelo ao fenômeno da desesperança aprendida descrito por Martin Seligman. Se você não acredita mais na recompensa futura que te prometem, você passa a ser mais imediatista. Ou seja, se você não acredita mais nas regras do jogo irá procurar novas regras, novos jogos. Na desesperança aprendida, fenômeno teorizado por Seligman, a pessoa desacredita no futuro, aprende a não ter esperança. Por exemplo, se te dizem que estudando, ou se comportando de determinada maneira, você irá ser uma pessoa respeitada, ter uma casa, um salário decente, etc. E se no final nada disto acontece você começa a repensar o sistema, as regras do jogo.
Não é um fenômeno só brasileiro… No mundo, em vários países, há oscilações em nossas crenças sobre os sistemas, sejam administrativos, sejam religiosos, ou até sistemas de regras sociais ou familiais.
Se o sistema te promete uma recompensa e no final você não obtém esta recompensa você se sente frustrado. Se isto se repete as pessoas caem num vazio existencial e aí podem ser atraídas por novos sistemas, é aí que as seitas proliferam, seja pela internet ou fora dele. Suponho que seja o mesmo fenômeno.
Viver um eu projetado, que construímos internamente e que acena com um universo seguro e coerente. Mas… Como já dizia o adágio popular.
“A coerência tola é o demônio dos que têm pouco juízo”.
Já chegou ao seu consultório, pessoas dependentes tanto do Orkut, quanto do Second Life?
Como queixa inicial ainda não… Isto acontece como demanda secundária.
Há tratamentos específicos para este tipo de dependência? Não se trata de um tratamento específico para tipos de dependência, mas para tipos de pessoas. Cada pessoa necessita de um tipo de abordagem em seu tratamento. Há inúmeros fatores como idade, motivações, ocupações, hierarquia/posição familiar, a situação geral em que a pessoa se encontra enfim… Isto tudo dará um contorno específico e o manejo de técnicas segue este contorno.
A psicoterapia estratégica baseia-se num esquema que pode ser resumido no texto que anexei. ( Este texto encontra-se disponível neste site).