O Diamante de Erickson

Teaching-seminar-1978

O Diamante de Erickson
Em busca de critérios para uma terapia sob medida
Prof. Celso Lugão da Veiga

Este artigo tem como objetivo principal expor os critérios diagnósticos sistematizados por Jeffrey K. Zeig através de sua *compreensão da obra de Milton Erickson, bem como citar as fases do processo terapêutico denominado metaforicamente de “O Diamante de Erickson”.

Zeig J. Zeig (foto à esquerda)

Deve-se observar que um resumo de outras sistematizações pode ser acessado em W. H. O’Hanlon ( 1994).

WHHanlon W. H. O’Hanlon (foto)

Este artigo originalmente foi concebido para apoiar as aulas em cursos de hipnoterapia, e agora pode ser um guia para pessoas e profissionais interessados em conhecer esta abordagem, como por exemplo, os estagiários do Projeto de Psicoterapia Estratégica do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da UERJ.

“As pessoas possuem uma reserva de sabedoria, aprendida e esquecida, porém sempre disponível”. Milton H. Erickson.

Milton-Erickson

(foto de Erickson)

Propositalmente, os tópicos e temas levantados neste artigo têm uma caráter motivacional, ou seja, não se pretende aqui desenvolve-los e explicitá-los, uma vez que isto já está feito nos livros citados, bem como é uma tarefa realizada durante as supervisões e aulas do prof. Celso Lugão.

Flyer do Evento Zeig 1993

O material deste artigo, de forma mais extensa, pode ser encontrado na obra “Terapia cortada a la medida” organizada pela Dra. Teresa Robles a partir do seminário proferido por J. Zeig na cidade do México; sendo que em 1993 o Dr. J. Zeig esteve no Brasil ministrando um workshop análogo, tendo o autor deste artigo frequentado o mesmo.

A obra da Dra. T. Robles então foi traduzida com o título Terapia feita sob medida. (vide bibliografia).

T. Robles

Existem ainda dois temas que introduzem o contexto que embasa tal exposição:

–> o primeiro trata de uma breve reflexão sobre os caminhos da ciência e…

–> o segundo açambarca o problema da formação e da informação em psicoterapia.

Os temas para reflexão buscam estimular o pensamento científico (crítico, portanto) alertando para distorções perigosas que não permitem o amadurecimento de soluções para as questões humanas, da vida e do universo como um todo.

novas-ideias

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As fontes citadas permitem expandir e consultar muitas outras referências que estão na base de tais ideias.

Os temas são descritos abaixo:
Processos algorítmicos (a base da vida) e Simuladores. ( Dennett)
Os neurônios-espelho – a base da leitura das intenções do outro. (Fleury)
Regularidade – ciência, psicoterapia, modelos e estratégias.

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Tais temas para reflexão, conforme foi dito, não serão desenvolvidos neste artigo, porém existem referências bibliográficas no índice, assim como outros artigos neste mesmo site que abordam algumas informações pertinentes.

A relevância da formação e da informação, o segundo tema, explica como se forma o estilo de cada terapeuta.

Carl Whitaker e Jay Haley são citados devido as suas conhecidas posições no tocante a aprendizagem deste binômio: formação x informação.

the-whitaker-audio-collection Enquanto Carl Whitaker valoriza a formação, Jay Haley provoca com seus argumentos sobre a supremacia da informação e do treinamento. A obra citada de Salvador Minuchin contém uma sábia análise deste problema. (Vide bibliografia).

Haley Jay Haley (foto)

Daí a anedota transcrita abaixo, que resume a posição de Salvador Minuchin.

(foto Salvador Minuchin) Minuchin

Certa vez, um velho e sábio rabino escutava com paciência dois de seus alunos mais brilhantes que se encontravam engajados em uma discussão polêmica.
O primeiro apresentou seu argumento com convicção apaixonada.
O rabino sorriu em aprovação. “Isso está certo.”
O outro aluno argumentou o contrário, convincente e claramente.
O rabino sorriu novamente. “Isso está certo.”
Aturdidos, os alunos protestaram.
“Rabino, nós dois não podemos estar certos!”

Carl Whitaker
Carl Whitaker

“Isso está certo”, disse o velho e sábio homem” ( in Minuchin, 2008, p. 11)

Portanto: 
Um terapeuta pode estar envolvido com o conteúdo, e então não observa as relações entre as pessoas. 

Outro pode perceber o comportamento dos clientes à luz de uma ideologia ou tema. (exemplo: justiça social e misticismo) 

O estilo pode estar relacionado com respostas caracteriológicas básicas do terapeuta: evitação de conflitos, um foco exclusivo sobre as emoções ou sobre a lógica. 

Ser direto ou indireto na comunicação. 

Um se concentra em pequenos detalhes p/ manter a distância, evitando confrontos. 

Outro faz preleções, não assumindo as próprias idéias diante do cliente.

C. Rogers “O curioso paradoxo é que, quando aceito a mim mesmo exatamente como eu sou, então eu sou capaz de mudar.”
C. Rogers (in Shapiro, 2001,p.101) 

Assim, dois terapeutas com uma compreensão teórica semelhante (informação) de um caso clínico e com o mesmo objetivo terapêutico, responderão de duas maneiras diferentes (formação) e idiossincráticas. 

Spock tocando violão Logo, o estilo do terapeuta deve ser percebido e ampliado: o desafio é expandir o repertório.

“O objetivo é um clínico que consiga manejar a si mesmo em nome da mudança terapêutica e, além disso, ser espontâneo.”
S. Minuchin (in Minuchin et alli, 2008, p. 13).

Portanto, toda obra, seja de arte ou/e científica, é um tanto autobiográfica, como no cinema, por exemplo.

Os modelos teóricos e as abordagens em psicologia e em psicoterapia seguem este viés e refletem a personalidade ou sofrem influência do histórico de vida de cada criador.

Neste sentido, as obras de T. Robles, que refletem sua vida, são excepcionais para o propósito do terapeuta examinar a si mesmo, investigar a sua própria vida). Recomenda-se todas. DSC03819

Coloca-se também um link de uma entrevista concedida pela Dra. Teresa Robles.

Ela recebeu uma homenagem da Fundação Milton Erickson, em “reconhecimento por toda uma vida dedicada a atingir contribuições de destaque no campo da psicoterapia”.

http://www.revistaprogredir.com/teresa-robles.html

Portanto, antes de prosseguir, se anexa um resumo biográfico sobre M. Erickson

O propósito deste resumo é lembrar, assim como ilustrado na exposição oral que o professor Celso Lugão costuma fazer sobre o filme Tommy (ópera rock do conjunto The Who), que o estilo de cada um é moldado por quesitos extremamente idiossincrásicos.

tommy 2 Recomenda-se fortemente aos interessados assistirem a este filme, dirigido por Ken Russel.

Certamente, deve haver legendas em português no Youtube, mas o que está no link abaixo encontra-se em espanhol:

http://www.youtube.com/watch?v=PBNagysBeXE http://pt.wikipedia.org/wiki/Tommy_(%C3%A1lbum)

Desta forma, também a abordagem de Milton H. Erickson está relacionada com a história de sua vida.

A vida de Milton Hyland Erickson (Aurum, Nevada, 5 de Dezembro de 1901 — Phoenix, Arizona, 25 de Março de 1980).

Milton Hyland Erickson nasceu no estado de Nevada – EUA, em 1901 e faleceu em 1980 em Phoenix – Arizona.

DSC09212 Vinha de uma família de fazendeiros e foi criado em ambiente rural até a sua adolescência.

O primeiro fato marcante da vida de Erickson que o acompanhou durante vários anos, foi a questão referente as suas inúmeras dificuldades físicas e de saúde.

Erickson contraiu poliomielite aos 17 anos, ficando totalmente incapacitado de fazer qualquer coisa a não ser falar e mover os olhos durante alguns anos.

As dificuldades e dores físicas estiveram presentes durante sua vida, intercalando episódios de melhora e crises recorrentes de pólio, fazendo com que aos poucos houvesse uma degeneração progressiva de seus músculos e múltiplas deficiências.

DSC09205 A história de Erickson e a sua visão inovadora da psicoterapia são em última análise, a história da superação de suas inúmeras dores e problemas de saúde.
Erickson se interessou inicialmente pelo uso da hipnose no controle e manejo de dor crônica, vindo a desenvolver durante toda sua vida inúmeras técnicas para seu tratamento.

hipnose_014 Como ele mesmo coloca: a pólio foi o melhor professor que já tivera quanto ao comportamento humano e seu potencial.

Ensinou a ele a força da motivação, mínimas mudanças comportamentais e um extremo senso de percepção e observação, valorizando o humor e as relações familiares.

Deste ponto em diante seguem os tópicos que resumem o conteúdo que são expostos nas supervisões e aulas, lembrando ainda que podem ser realizados alguns exercícios para que se possa vivenciar algumas das informações; todo este material encontra-se bem explicado no seminário de Jeffrey Zeig organizado pela Dra. T. Robles.

O diamante de Erickson sugere que o terapeuta deve ter em mente os seguintes passos:

diamante

Ter uma meta (objetivo)- o chamado estado desejado da terapia, isto permitirá saber p/ onde conduzir a terapia, bem como fixa um ponto que permite ao terapeuta saber se alcançou o objetivo.

Este objetivo deve ser… Embrulhado para presente, ou seja, usam-se as técnicas (metáforas, hipnose, prescrições) p/ passar as sugestões.

Se o objetivo é levantar a auto-estima, por exemplo, podem ser contadas histórias/metáforas, ou usar estados de transe, ou alterar submodalidades (NLP).

Fazer sob medida – significa que além da meta ser passada através de técnicas, isto deve ser feito usando o conhecimento das características marcantes do cliente.

Assim, se uma pessoa é visual o terapeuta deve usar palavras visuais… Veja como é belo este mar.

Se é cinestésico… Sinta como este mar é aconchegante com suas águas na temperatura ideal para você.

Se o cliente é auditivo… Ouça o agradável som das ondas deste mar.

Pelos exemplos, todos podem notar que quem os fez aprecia o mar; então fazer sob medida é usar os valores de cada um.

Logo falar sobre o mar, sentir o mar e ver o mar denota que o mar é valorizado pela pessoa que criou tais exemplos.

Estabelecer um processo – é preciso motivação para levar adiante as mudanças, assim deve-se observar a responsividade, estabelecer metas intermediárias p/ reforçar os ganhos, aplicar conotações positivas para cada etapa alcançada/vencida, passo a passo.

Deve-se criar uma certa cerimônia (ritual/drama) ao se oferecer a meta embrulhada para presente e sob medida, isto é fundamental.

Obs. Vários analistas da obra de Milton Erickson (incluindo J. Zeig) destacam a utilização como um método ou conceito, extremamente poderoso, o qual gera técnicas e até uma postura de vigilância, pois mantém o terapeuta atento, observando aquilo que o cliente traz.

É por demais conhecido o caso do sujeito que dizia ser Jesus Cristo e que foi tratado por Erickson a partir da aceitação deste ponto, acrescentando, e portanto expandindo, o fato de que como Jesus era carpinteiro, tal dote poderia ser utilizado em prol da socialização, reintegração do cliente e aumento da sua auto-estima e do respeito da comunidade. (Sobre este caso ver Haley, 1991)

Abaixo link para o vídeo… Qual a melhor técnica?

https://www.youtube.com/watch?v=pE6pGYWKTn4 


O metamodelo de intervenção

Posição do terapeuta Coração / Lentes / Músculos e Chapéu. Objetivos – Responsividade e Recurso / Motivar / Metaforizar e Mover.

Estratégias – o uso de técnicas variadas. (ver Short, 2006).

Posição do cliente – Coração / Lentes / Músculos e Chapéu.

Processo – Preparação / Intervenção principal / Acompanhamento

Categorias diagnósticas intrapsíquicas: (para fazer a terapia sob medida)

Perceptuais
•Estilo de atenção: interna ou externa? / focada ou difusa ?

•Sistema sensorial: visual/ auditivo / cinestésico ?

Processo de elaboração

•Amplificador ou redutor?

•Linear ou mosaico?

Categorias relacionais e sociais

Family and hand Estrutura familiar

– a relação dos filhos (+ velho, + novo, caçula, único, temporão).

Erickson Rural ou Urbano?

Intrapunitivo ou Extrapunitivo?

Doador ou Absorvedor?

Pesquisador ou Auto-protetor?

Controlador ou Controlado?

Conforme dito, a fonte básica de partida aqui é a obra organizada pela Dra. T. Robles ( 2000), e lembrem-se…

Paraquedas de Buda - mente aberta

“Mente humana é como paraquedas… funciona melhor aberta” Charlie Chan Liang Luganus.

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Bibliografia

BUZAN, T. Mapas mentais e sua elaboração. Cultrix. 2005. 
DENNETT, D. A perigosa idéia de Darwin. Rocco. 1998. 
ERICKSON, M. Os seminários didáticos de (psicanálise) com Milton Erickson. Imago. 1983. Obs. O título original não tem a palavra psicanálise, a mesma parece ter sido uma jogada (péssima) de marketing da editora que vendia livros de psicanálise. Há uma tradução de outra editora que preservou o verdadeiro título… Seminários Didáticos de Milton Erickson”, Editorial PSY/Campinas, 1995). 
FLEURY, H. et alli. Psicodrama e neurociência. Ágora, 2008. 
HALEY, J. Terapia não-convencional. Summus, 1991. 
MADANES, C. Sexo, amor e violência.Editorial Psy. 1997. 
MINUCHIN, S. et alli. Dominando a terapia familiar. ArtMed, 2008. 
O’HANLON, W. H. Raízes profundas. Editorial Psy II. 1994. 
OMER, H. Intervenções críticas em psicoterapia. Artes Médicas, 1997. 
ROBLES, T. Terapia feita sob medida – um seminário ericksoniano com Jeffrey K. Zeig. Diamante, 2000. ( traduzida de ROBLES, T. (1991) Terapia cortada a la medida: un seminario ericksoniano com Jefrey K. Zeig. México: Instituto Milton H. Erickson de la ciudad de Mexico Editorial.) 
ROBLES, T. Auto-hipnose. Diamante, 2001. 
ROBLES, T. A magia dos nossos disfarces. 2001. 
ROBLES, T. Revisando o passado para construir o futuro. Diamante, 2002. 
SHAPIRO, F. EMDR. Nova Temática. 2001. 
SHORT, D. Estrategias psicoterapéuticas de Milton Erickson. Alom editores, 2006. 
ZEIG, J. Hipnose ericksoniana- o lado humano e o trabalho de M. Erickson. Editorial Psy. 1993

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That`s all folks

Por Celso Lugão

Especializações em PSICOLOGIA CLÍNICA E HOSPITALAR. Exerce ATIVIDADE CLÍNICA fazem mais de 30 anos, tendo criado sua abordagem particular de PSICOTERAPIA ESTRATÉGICA. Possui MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL PELA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Atualmente é professor do INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UERJ tendo criado o setor de PSICOTERAPIA ESTRATÉGICA NO SPA DA UERJ EM 1988 e desde então atua como SUPERVISOR desta abordagem. Participou de forma intensiva do PROCESSO DE VALIDAÇÃO DA HIPNOSE como TÉCNICA PASSÍVEL DE SER UTILIZADA PELO PSICÓLOGO, fato este reconhecido pela SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPNOSE e pela SOCIEDADE DE HIPNOSE E MEDICINA DO RIO DE JANEIRO. Possui experiência em várias áreas da psicologia, a saber: EPISTEMOLOGIA DAS PSICOTERAPIAS (DESENVOLVIMENTO DE REFERENCIAIS EPISTEMOLÓGICOS E CLÍNICOS; ESTUDO DAS PERSPECTIVAS ESTRATÉGICA, ESTRUTURAL E SISTÊMICA EM RELAÇÃO AO INDIVÍDUO E A FAMÍLIA) ; PSICOLOGIA CLÍNICA E HIPNOLOGIA (TRANSDUÇÃO DA INFORMAÇÃO MENTE-CORPO, PSICOIMUNOLOGIA, TÉCNICAS HIPNÓTICAS, CORPORAIS, PSICODRAMÁTICAS E ESTADOS ALTERADOS DA CONSCIÊNCIA); TANATOLOGIA (MORTE, LUTO E SEPARAÇÕES); PROCESSOS DISSOCIATIVOS (TRAUMA, DISTÚRBIO DISSOCIATIVO DA IDENTIDADE, SÍNDROME DO STRESS PÓS-TRAUMÁTICO, SÍNDROME DO PÂNICO, SUICÍDIO, DROGADICÇÃO, PSICOSES); E ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA SUPERVISÃO (TREINAMENTO, INFORMAÇÃO E FORMAÇÃO ). (Text informed by the author)

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